Os próximos dois anos do Inter começam a ser decididos hoje, a partir das 20h. Quando as urnas da eleição do Inter forem fechadas, os 346 conselheiros do clube terão definido se o pleito resume-se ao voto das principais lideranças coloradas ou se mais de 75 mil sócios escolherão o mandatário para o biênio 2013-2014. A expectativa é que o resultado seja divulgado até as 23h.
Giovanni Luigi, atual presidente e candidato à reeleição, tem, segundo levantamento de ZH, a maioria dos votos — o candidato do movimento Inter Grande é apoiado pelos movimentos Colorado Eu Sou, Coração Colorado, DNA Colorado, Inter Maior, Inter Sempre e Alma Colorada. Luigi tem Marcelo Medeiros e Diana Oliveira como vice-presidentes.
Luiz Antonio Lopes, do União Colorada, apoiado pela Ação Independente Colorada e Mais Inter, compôs chapa com Décio Hartmann e Carlos Rafael de vices.
Já Sandro Farias, do Convergência Colorada, traz Luís Henrique Nunes e Fabrício Berto na administração. Lopes e Farias aparecem empatados tecnicamente na disputa ao segundo turno.
As duas chapas com mais votos e que superarem a cláusula de barreira — 25% das cadeiras do conselho ou 87 votos — disputarão nova eleição no dia 15 de dezembro. Se apenas uma obtiver mais de 87 votos, estará eleita.
A pedido de Zero Hora, os três candidatos à principal cadeira do Beira-Rio concordaram em enviar questões para uma espécie de debate. Cada presidenciável tinha o direito de fazer duas perguntas aos adversários. Os temas eram livres e as respostas não tinham limite de caracteres.
CRÉDITO: Arte zhEsportes
Luiz Antonio Lopes — As duas chapas já apresentaram seus vice-presidentes de futebol, Vitorio Piffero e João Patrício. Luciano Davi será seu vice de futebol?
Giovanni Luigi — Estou em uma condição diferente dos demais concorrentes. Sou presidente do Sport Club Internacional e tenho que ter responsabilidade. Já fiz a análise de onde erramos e onde acertamos no futebol e nosso torcedor esteja certo de que isso será colocado em prática. Estamos em meio a uma competição importante e jogaremos com foco total até o último minuto. Por esse motivo, não me permito externar as resoluções que, repito, já tenho e sei como e quando fazer.
Sandro Farias — Por que o senhor optou por não aceitar o pedido de união proposto por Luiz Antônio Lopes no Conselho Deliberativo, antes de ele lançar candidatura própria?Giovanni Luigi — Nós entendemos que para a instituição é fundamental que todos os movimentos políticos participem da gestão. Passada a eleição, este será o nosso objetivo. Temos interesse em trazer todos os movimentos para trabalhar juntos pelos desafios que virão nos próximos dois anos.
Luiz Antonio Lopes — Como presidente do Inter, qual sua responsabilidade na escolha de cinco treinadores e três vice-presidentes de futebol em apenas dois anos de gestão?Giovanni Luigi — O presidente divide responsabilidade em todos os segmentos do clube. E comigo é assim, desta forma. Foi assim na escolha dos treinadores e, da mesma forma, foi assim na contratação do Diego Forlán, na permanência do Leandro Damião e do D'Alessandro, na excelente negociação que fizemos com o Oscar, nas questões referentes à reforma do Beira-Rio, no aumento do número de sócios e de tantas outras ações que implementamos em quase dois anos de gestão.
Sandro Farias — Sem a venda de mais um atleta importante ou recebimento de bonificação por extensão do contrato de televisionamento até 2017 será possível encerrar ano com salários e dívidas em dia?Giovanni Luigi — O Sport Club Internacional é um clube que pode se orgulhar da sua situação financeira e que honra com seus compromissos. Sim, é possível encerrar o ano como sempre encerramos, com salários e dívidas em dia.
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Giovanni Luigi — No debate da votação do Conselho sobre o modelo de construção do novo Beira-Rio, o seu grupo foi contra. O seu grupo continua contra?Luiz Antonio Lopes — Agradeço a pergunta porque dá para expressar ao torcedor o mesmo que já afirmei no Conselho Deliberativo sobre o tema. Uma vez aprovado pelo Conselho e assinado com a Andrade Gutierrez este é o contrato do Inter, portanto nosso contrato.
Sandro Farias — Qual a sua avaliação sobre o crescimento da dívida de curto prazo do Inter, mesmo tendo o clube recebido importante bonificação por renovação dos contratos de televisionamento do Brasileirão?Luiz Antonio Lopes — Preocupa muito quando fazemos um comparativo com os balanços publicados em anos anteriores e as informações até agosto de 2012 apresentadas no conselho. Em 2010, para cada R$ 1 que tínhamos ou que receberíamos em curto prazo, devíamos R$ 1,45 no mesmo período. Em 2011, essa proporção passou para cada R$ 1 que tínhamos ou que receberíamos em curto prazo, devíamos R$ 1,75 no mesmo período. Em 2012, conforme informações recebidas até agosto, essa proporção aumentou muito, passando para cada R$ 1 que tínhamos ou que receberíamos em curto prazo, devíamos R$ 2,52. Causa estranheza porque nestes números acumulados até agosto já está registrada a venda do atleta Oscar. Preocupa mais ainda porque o presidente Luigi sempre afirma que o clube está em azul, sem se preocupar com o endividamento em curto prazo.
Giovanni Luigi — O clube fez um esforço muito grande para manter alguns jogadores importantes, entre eles Leandro Damião. O senhor teria mantido estes jogadores?Luiz Antonio Lopes — Se possível, teria mantido o jogador Oscar. Quanto ao Leandro Damião, se economicamente viável, manteríamos. Nossa política nestes anos todos foi de a cada venda reforçar o elenco. Assim, crescemos e obtivemos todos os campeonatos e mantivemos o clube grande.
Sandro Farias — Levantamento recente feito pela Pluri Consultoria constata que o Inter não está entre os 10 clubes brasileiros mais transparentes a respeito de sua gestão e finanças. Qual a sua análise sobre o resultado deste ranking, por que ocorreu este retrocesso?Luiz Antonio Lopes — Realmente nos preocupa quando o clube está em posição inferior aos demais clubes concorrentes em um ponto que sempre fomos referência no Brasil. Ou seja, éramos referência em gestão. Analisando os critérios da Pluri Consultoria (a empresa faz um ranking de transparência entre os clubes, levando em consideração a publicação dos balanços e outros critérios), fica claro que a mudança da frequência de publicação dos balanços interferiu diretamente em nossa avaliação. Lembro que em nossa gestão, até 2010, a frequência de publicação era trimestral, passando a partir de 2011 a ser anual. Também ressalto a dificuldade de encontrar informações referentes a gestão e finanças em nosso site, algo que nos prejudicou na avaliação da Pluri Consultoria. É muito importante a organização das informações para que o torcedor tenha facilidade na compreensão da gestão do clube. Devemos retomar uma melhor frequência de publicações dos dados de gestão e finanças, qualificar o conteúdo com melhores informações, além de reorganizar o site do clube para melhores pesquisas de conteúdo.
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Giovanni Luigi — Quais os pontos positivos que vocês detectam na atual gestão?Sandro Farias — A iniciativa original de contratação de um CEO para o clube, apesar de ser em perfil totalmente diverso daquele que idealizamos e não ter havido continuidade no projeto. Da mesma forma, tivemos redução formal das vice-presidências, o que é positivo, mas sem definição de uma estrutura de trabalho para substituí-las, o que deixou a ação sem efeito prático. O relacionamento com o Conselho Deliberativo, na questão das obras, também merece destaque.
Luiz Antonio Lopes — Pretende implementar, com maior abrangência, a profissionalização do clube. Isso será feito de uma única vez ou em etapas?Sandro Farias — Não há modelo pronto e precisaremos de uma adaptação gradativa, alinhada com a história do clube. Ela pressupõe critérios de contratação e compromisso exclusivo com as metas e resultados. Precisamos focar o quadro político na definição das estratégias e grandes questões do clube, principalmente o futebol. A contratação de profissionais de ponta para a execução dos nossos objetivos é um processo constante e uma necessidade imediata. Por transparência e segurança jurídica, a adequação da estrutura funcional deve começar pelo Regimento Interno da diretoria para a posterior alteração estatutária, já no primeiro semestre de 2013. Profissionalizar é uma necessidade competitiva hoje e não pode ser confundida com mera remuneração.
Giovanni Luigi — O clube fez um esforço muito grande para manter alguns jogadores importantes, entre eles Leandro Damião. O senhor teria mantido estes jogadores?Sandro Farias — Sem dúvida faríamos todos os esforços para manter nossos jogadores mais importantes. Mas não apenas como mero ato de reconhecimento a sua contribuição no passado, mas por seu potencial no futuro, vontade de ficar e comprometimento com o trabalho em busca de títulos. Quanto às possíveis vendas para o Exterior, não há informações disponíveis quanto às propostas recebidas para avaliar o efetivo esforço da diretoria. Da mesma forma, a venda do Oscar, na véspera das Olimpíadas, um dos maiores eventos midiáticos e esportivos do mundo, não parece ter sido a mais oportuna. Assim como a manutenção do Leandro Damião não deve ser dependente de rendas extraordinárias, como luvas por renovação de contrato de televisionamento de 2017, mas, sim, decorrer de ampliação de receitas estruturais próprias e exploração de imagem, ação da qual temos pouca informação do retorno.
Luiz Antonio Lopes — O conselho de gestão implementado pelo atual presidente é o modelo que o Convergência pretende manter?Sandro Farias — Não. Desconhecemos o alegado "conselho de gestão" atual, uma vez que não há definição de integrantes, atribuições, convocações, não tendo jamais se reportado ao Conselho ou prestado contas de sua atuação. São apenas reuniões de assessores do presidente. Nosso Conselho de Administração será pautado pelo código das melhores práticas de governança corporativa, terá definição pública de integrantes e atribuições claras definidas em regimento próprio e de conhecimento de todos — torcedores, sócios e conselheiros. Um Conselho de Administração é instrumento de equidade e inclusão política, bem como transparência da instituição.