31 de outubro de 2012

CBF perde a chance de solucionar polêmicas como a de Inter x Palmeiras


A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não possui um recurso tecnológico que poderia facilmente elucidar se o árbitro Francisco Carlos Nascimento anulou o gol ilegal do palmeirense Barcos, feito com a mão, diante do Inter, no último sábado.
No Campeonato Inglês, pelo menos as conversas feitas pelos rádio comunicadores da arbitragem são gravadas. Os arquivos de áudio ficam em poder da comissão de arbitragem e, caso necessário, podem ser apresentados como provas em processos na comissão disciplinar.
É isso o que deve acontecer no julgamento do árbitro Mark Clattenburg. No último fim de semana, ele apitou o clássico Chelsea x Manchester United e foi acusado de ofensas de cunho racista por dois atletas da equipe londrina, o nigeriano Mikel e o espanhol Juan Mata. A Liga inglesa já disse que as fitas das conversas internas serão usadas. O procedimento é usado desde a temporada passada e todos os jogadores e árbitros atuam sabendo que poderão ser gravados.
No Brasil, ao contrário, essa gravação não existe. O ex-diretor de arbitragem da CBF Sérgio Corrêa, que foi o responsável pela compra dos radio comunicadores, em maio deste ano, afirmou que não sabia que é possível gravar as conversas. Diz que o fabricante não o informou dessa funcionalidade.
De qualquer forma, os árbitros brasileiros, com receio de punições, não gostam de ser gravados.
— Eles preferem não ser gravados porque temem ser punidos por algo que digam em campo. Preferem ficar mais à vontade durante os jogos — disse o antecessor de Corrêa na comissão de arbitragem, Edson Rezende, que agora é corregedor de arbitragem da CBF.
Episódio com Wright
Em 1982, a pedido da TV Globo, o então árbitro José Roberto Wright usou um gravador debaixo da camisa, durante a final da Taça Guanabara, entre Flamengo e Vasco, para mostrar como era o trabalho de um árbitro. Após o áudio ser revelado, Wright foi suspenso por 40 dias, já que os jogadores alegaram invasão de privacidade.
— Aquilo foi para provar o quanto é difícil a vida do árbitro e sinceramente acho que não resolveria nada se fosse adotado aqui. As decisões do árbitro são finais. Apenas quando acontece um erro de direito, a partida pose ser anulada. Já pensou se tudo pudesse ser revisto depois? O futebol não teria graça que tem hoje — defende Wright.
Indireta
A Fifa proíbe ajuda eletrônica na arbitragem, mas não existe nada nos regulamentos escritos proibindo o quarto árbitro de receber informações de terceiros. Essa é a posição do ex-diretor de arbitragem da CBF Edson Rezende, do ex-árbitro Fifa José Roberto Wright, que foi membro da comissão de futebol da Fifa até dezembro de 2011, e do procurador-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Paulo Schmitt.
— Já procurei em todo lugar, pedi ajuda à comissão de arbitragem e não encontrei — disse Schmitt.
— Não tem nada de proibição. É claro que a Fifa usa o bom senso e acredita que o quatro árbitro, por exemplo, usará o bom senso para não ter uma ajuda externa — acrescentou José Roberto Wright, um dos árbitros brasileiros que apitaram Copa do Mundo em 1990.
Na regra 5, sobre os poderes do árbitro, é dito que este poderá parar, suspender ou até abandonar o jogo em caso de interferência externa, seja ela de qualquer tipo.
— Esse item não se aplica neste caso. Ele se refere apenas a casos envolvendo torcedores, invasão de campo, arremesso de objetos ao campo, coisa assim — afirma Sérgio Corrêa, que foi diretor de arbitragem da CBF de 2007 até julho deste ano.
Ajuda externa já foi negada
Francisco Carlos do Nascimento (Fifa-AL), o árbitro de Inter 2 x 1 Palmeiras, já havia se envolvido em outra polêmica semelhante. No jogo entre Atlético-PR e Joinville, no dia 28 de agosto, pela Série B, ele marcou pênalti a favor da equipe catarinense. Após o quarto árbitro lhe avisar que não havia sido pênalti, voltou atrás. Os dois negaram que tenha sido utilizada uma ajuda externa.
José Roberto WrightEx-árbitro e membro da comissão de arbitragem da Fifa por 17 anos
Instrutores abusam da teoria. Falta prática
O árbitro tem de ter capacidade para ver o lance e tomar a melhor decisão. O quarto árbitro, por exemplo, é o que menos tem condições de decidir algo. Ele já tem de cuidar dos treinadores e dos bancos de reservas. Já os auxiliares que ficam atrás dos gols não têm a noção exata do que acontece em campo. O lance do gol de mão do Barcos, por exemplo, era todo do árbitro e, pela distância do quatro árbitro, que não poderia ter visto nada, com certeza houve uma ajuda externa. O que está faltando não somente no Brasil, mas no mundo inteiro, são instrutores que sejam mais práticos e menos teóricos.

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