20 de setembro de 2012

Sob pressão, Fernandão completa 2 meses de técnico e busca time ideal


Ao pisar no Beira-Rio na manhã desta quinta-feira, 20 de setembro, Fernandão completará dois meses como treinador do Inter. Só que o comandante colorado tem pouco a comemorar. Após um início alentador na carreira, o capitão da Libertadores e do Mundial de 2006 passa por um período turbulento, sofrendo contestações por parte da imprensa e da torcida. E, pior, busca contornar a crise gerada pelo contundente discurso após o empate em 2 a 2 com o Sport no último domingo.
Passados os 63 dias, o treinador ainda busca um time ideal. Assolado por problemas dos mais variados - convocações, lesões e suspensões -, Fernandão nunca conseguiu repetir a formação de uma partida para outra. Até o momento, colocou em campo 33 jogadores. Apenas Muriel atuou em todos os confrontos.
Como estilo de trabalho, Fernandão usa poucos treinos coletivos, quando o time titular enfrenta o reserva. O técnico, que utiliza o boné como acessório permanente, prefere exercícios táticos e técnicos. Não é raro promover exercício de transição de ataque para defesa, bolas aéreas defensiva e ofensiva, cruzamentos e finalizações. Além disso, não é adepto às atividades com portões fechados. Ele só optou pela privacidade em São Paulo, antes do jogo contra a Portuguesa, e na quinta e sexta-feira que antecederam o Gre-Nal.
Durante os jogos, Fernandão lembra os tempos de jogador e participa intensamente. À beira do gramado, grita, orienta, gesticula, faz caretas, sempre buscando corrigir algo errado. Quando sai um gol, vibra muito.
Com um elenco que é considerado um dos principais do Brasil, Fernandão deixou o cargo de diretor técnico do clube para assumir a casamata com o objetivo de lutar pelo tão sonhado Brasileirão, que o Inter não conquista desde 1979. O começo foi empolgante: permaneceu as seis primeiras partidas sem conhecer derrota. No entanto, agora está há quatro partidas sem vitória. No segundo turno, conquistou apenas um triunfo, diante do Flamengo (4 a 1). O aproveitamento da equipe nas primeiras seis rodadas é de apenas 33,33%, o que coloca os vermelhos em 17º no returno.
Fernandão orienta o Inter (Foto: Gabriel Cardoso/GLOBOESPORTE.COM)Fernandão tenta contornar o ambiente turbulento pelo qual passa o Inter (Foto: Gabriel Cardoso/GLOBOESPORTE.COM)
Se o desempenho atual é desolador, o retrospecto do técnico também está aquém das expectativas. Com 15 partidas à frente do Inter, soma cinco vitórias, seis empates e quatro derrotas, o que dá um rendimento de 46,66%.
Para agravar ainda mais o cenário, no último final de semana, Fernandão fugiu a sua característica conciliadora e concedeu uma entrevista explosiva. Visivelmente irritado, o técnico criticou a postura dos jogadores e afirmou que alguns estavam em uma "zona de conforto". Segundo o técnico, após o primeiro tempo diante do Sport, quando o Inter perdia por 2 a 0, ele deixou o gramado para o vestiário envergonhado com o desempenho de seus comandados:
- Entramos em uma zona de conforto. Ela tem que acabar. Já tínhamos diagnosticado isso há um tempo. É difícil chegar à beira de campo do Beira-Rio e rezar para saber qual time estará em campo. Ou sai da zona de conforto ou começo a trocar as peças. Tive vergonha, a torcida tinha razão naquele momento. Era de se vaiar, xingar. Queria estar em qualquer lugar da terra, menos onde estava. Não sei se o Inter precisa de um treinador amigo neste momento. Se for preciso, serei inimigo deles para fazer este time jogar.
Fernandão não descartou, inclusive, tirar alguns dos “medalhões” da equipe. Mesmo com as palavras fortes, o treinador seguiu respaldado pela direção. O vice de futebol Luciano Davi garantiu que Fernandão tem “carta branca” para mudar o que achar necessário na equipe e afirmou que o técnico seguirá à frente do Inter até o final do Brasileirão.
Fernandão, técnico do Inter (Foto: Alexandre Lops / Inter, DVG)Fernandão tenta levar o Inter à Libertadores em 2013 (Foto: Alexandre Lops / Inter, DVG)
Na terça-feira, pela primeira vez após a entrevista turbulenta, Fernandão ficou frente a frente com seus comandados. O treino, que estava previsto para as 10h, começou quase às 13h. Durante duas horas e meia, o grupo permaneceu reunido no vestiário do CT para corrigir os erros, conversar sobre a entrevista e ouvir as duas partes. Tanto jogadores quanto os membros da comissão falaram buscando retomar o rumo da equipe.
Os números de Fernandão
15 jogos
5 vitórias
6 empates
4 derrotas
46,66% de aproveitamento
33 jogadores já utilizados
Depois, D’Alessandro concedeu entrevista coletiva e evitou condenar a atitude do técnico. Embora tenha repetido por mais de uma vez que, na sua opinião, os equívocos devem ser tratados internamente, ressaltou que Fernandão, como comandante, é o único que pode externar os problemas. O capitão rechaçou revelar o teor do longo bate-papo e disse que não se sentiu atingido como um dos focos da ira do treinador:
– Não sou ninguém para falar se o que ele disse está certo ou errado. Posso dar a minha opinião. O Fernandão é o técnico e pode falar do jeito que quiser. Ele achou que era o melhor. Porém, se o grupo tiver que falar algo, vai fazer dentro do vestiário. É algo interno. As cobranças ficam dentro do vestiário. Eu não achei que (a cobrança) fosse para mim. Nunca me senti assim no clube. Estar acomodado é não jogar, ficar na maca, não correr. Isso foge das minhas características. Tenho coisas para melhorar, mas não me senti atingido. Não vi ele citar o meu nome na coletiva.
Atrás 16 pontos do líder Fluminense (o Inter é sétimo, com 37), Fernandão procura juntar os cacos para alcançar uma vaga à Libertadores de 2013. Para isso, precisa derrotar o Bahia neste domingo, às 18h30m, no Beira-Rio.

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